Interpretação ( ED ) – Rubens Fonseca – Meu pai era um homem bonito...



Leia o texto abaixo, de autoria de Rubem Fonseca, e as afirmações que seguem.

Rubens Fonseca
Meu pai era um homem bonito, com muitas namoradas, jogava tênis, nadava, nunca pegara uma gripe até ter um derrame cerebral. Vivia envolvido com sirigaitas, como minha mãe as chamava, e com fracassos comerciais crônicos. Tivera uma peleteria numa cidade onde fazia um calor dos infernos quase o ano inteiro. Claro que foi à falência, mas suas freguesas nunca foram tão bonitas, embora tão poucas. Antes tivera uma chapelaria, e as mulheres haviam deixado de usar chapéus. No fim, tinha um pequeno armarinho sempre tivera lojas que fossem freqüentadas principalmente por mulheres na rua Senhor dos Passos. Minha mãe costumava aparecer na loja, para ver se alguma sirigaita andava por lá. Às vezes, eles discutiam na hora do jantar; na verdade, minha mãe brigava com ele, que ficava calado; se ela não parava de brigar, ele se levantava da mesa e saía para a rua. Minha mãe ia para o quarto chorar, nesses dias. Eu ia para a janela, cuspir na cabeça das pessoas que passavam e olhar para o letreiro luminoso de neon da loja em frente. Essa é uma luz que até hoje me atrai e que não foi ainda captada nem pelo cinema nem pela televisão. Quando meu pai voltava, bem mais tarde, o desespero da minha mãe havia passado e eu a via ir à cozinha preparar um copo de leite quente para ele. Um dia ele me disse que era uma pena que os homens tivessem de ser julgados como cavalos de corrida, pelo seu retrospecto. O problema do seu pai , minha mãe me disse certa ocasião, é que ele é muito bonito . Ela não o viu ficar paralítico, nem teve de suportar a tristeza incomensurável do olhar dele pensando nas sirigaitas. Sim, meu pai ainda era um homem bonito quando minha mãe morreu. A impiedosa lucidez com que eu agora pensava em meu pai encheu-me de horror não podemos ver as pessoas que amamos como elas realmente são impunemente. Pela primeira vez eu vira o pungente rosto dele, naquele espelho, o rosto dele que era o meu. Como podia eu estar ficando igual a meu pai, aquele, o doente?

Fonte: Rubem Fonseca. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. São Paulo: Planeta De Agostini, 2003, p. 12-3 (com adaptações).

I.O narrador relata que as brigas dos pais não tinham graves conseqüências e, por isso, não interferiram na sua infância.
II. O narrador afirma que perdeu a lucidez ao pensar em seu pai e isso lhe causou horror. 
III. No momento em que o narrador se reconhece como semelhante ao pai, questiona-se sobre si mesmo.

Assinale a alternativa certa.

a) Apenas a afirmativa I está correta.
b) Apenas as afirmativas I e II estão corretas
c) Apenas a afirmativa II está correta.
d) Apenas a afirmativa III está correta.
e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. 



Justificativa.

O item I, incorreto – As brigas dos pais tiveram consequência em sua infância, pois, o autor extravasava cuspindo nas cabeças das pessoas e até o dia em que ele escreveu esta crônica ainda lembrava o tempo que ficava olhando o letreiro luminoso de neon depois de presenciar as brigas.
O item II incorreto – O autor não perdeu a lucidez, mas teve um discernimento sem piedade e isto o fez ficar horrorizado, pois viu seu pai como ele era na realidade.
O item III – Correta - O autor tirou a venda dos olhos e viu como seu pai era em sua essência,ele não era um herói idealizado por Rubem Fonseca. Desta forma o autor se viu num espelho e começou a se pergunta se não seria igual ao pai

Raciocinando logicamente o item II com certeza está errado , de acordo como o texto “A impiedosa lucidez com que eu agora pensava em meu pai encheu-me de horror ..”, portanto eliminamos as alternativas” b”,” c” e “e”, restou as alternativas “A” e “D” ou item I ou item III, por exclusão somente o item III está correto, então afirmativa certa é a letra “D”

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